Petição na Ação Popular da Biossegurança

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Excelentíssimo(a) Senhor(a) Doutor(a) Juiz(a) Federal da 12ª Vara da Seção da Justiça Federal de São Paulo

 

(27.09.2001/010523)

 

Autos nº 98.0051804-5
Ação Popular
Autor: Carlos Perin Filho
Réus: União Federal & Ots.

Carlos Perin Filho, residente na Internet, em www.carlosperinfilho.net (sinta-se livre para navegar), nos autos da ação em epígrafe, venho, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, apresentar novas ilustrações para esta actio popularis.

Por MARIA BRANT, entrevistas com a filósofa indiana VANDANA SHIVA e com o antropólogo indiano SHIV VISVANATHAN, publicadas no jornal Folha de S. Paulo de 13/05/2001, Especial A-7, com destaque para as seguintes perguntas e respostas, in verbis:

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Folha - Como a sra. vê o futuro da agricultura?

Vandana - O meu medo é que a crise criada pela agricultura industrial - a disseminação de febre aftosa, a doença da vaca louca e o temor em relação aos trangênicos - seja usada para diminuir ainda mais as opções de agricultura rural nativa e de pequena escala e deixar a agricultura totalmente nas mãos das corporações. Meu sonho é que tenhamos milhões de pequenos agricultores. E que os jovens nas ruas de Londres, Davos e Seattle, que estão buscando uma alternativa, procurem uma vida com mais significado, mais interação com outros membros da sociedade e com a natureza... Eu adoraria imaginar que, por meio da agricultura descentralizada e sistemas alimentares locais, possamos criar um futuro empolgante."

"(....)

Folha - Como o sr. vê o futuro do debate sobre a comida?

Visvanathan - Sempre fico surpreso que os debates sejam construídos sobre o medo ou a escassez. Toda a economia é construída em torno da escassez, e a biotecnologia moderna parece ser construída em torno do medo ou da riqueza. Não vejo ninguém construindo nada em torno da festividade ou do jejum - e jejum não é anorexia, mas uma forma diferente de perceber os ritmos do corpo.

O maior problema é o fato de que a comida perdeu seu sentido de multiplicidade temporal, ou seja, saber quando se deve comer o quê - e isso não tem nada a ver com economia. Temos de libertar a economia dos economistas e dos marketeiros, para recuperar o sentido da prudência.

Deveríamos construir uma ciência em torno da festividade ou do jejum, fora da política do medo. Isso não significa ignorar a biotecnologia: ela é ótima se pensarmos que é uma extensão da fermentação. Se podemos celebrar o pão e o vinho e perceber que são frutos da biotecnologia, por que não resgatar essa idéia de comida?"

Da lavra da COOPERATIVA CENTRAL AGROPECUÁRIA DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E ECONÔMICO, informe publicitário sob o título "BENEFÍCIOS da soja geneticamente modificada para a AGRICULTURA", publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 18/09/2001, p. A-11, defendendo: "BIOTECNOLOGIA: o agricultor brasileiro precisa dessa nova tecnologia".

Da mesma lavra da COOPERATIVA CENTRAL AGROPECUÁRIA DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E ECONÔMICO, informe publicitário sob o título "BENEFÍCIOS da soja geneticamente modificada para a PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA", publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 20/09/2001, p. A-5, defendendo: "BIOTECNOLOGIA: o agricultor brasileiro precisa dessa nova tecnologia".

Da lavra da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS OBTENTORES VEGETAIS, informe publicitário sob o título "BENEFÍCIOS da soja geneticamente modificada para o BRASIL NO COMÉRCIO EXTERIOR", publicado no jornal Folha de S. Paulo de 25/09/2001, p. A-5, defendendo: "BIOTECNOLOGIA: o agricultor brasileiro precisa dessa nova tecnologia".

Da lavra de ARISTÓTELES, in verbis:

"O efeito que quem fala produz sobre um ouvinte depende de seus hábitos; pois requeremos a linguagem a que estamos acostumados e aquilo que é diferente disso não parece ao alcance mas um tanto ininteligível e estranho, porque não é costumeiro. Pois o costumeiro é mais inteligível. A força do costume é mostrada pelas leis, caso em que, com relação aos elementos lendários e infantis presentes nelas, o hábito tem mais influência do que nosso conhecimento acerca dessas mesmas leis. Algumas pessoas não ouvem quem fala, a menos que fale matematicamente; outros, a menos que dê exemplos; enquanto outros esperam que cite um poeta como testemunho. E alguns querem ter tudo precisamente determinado, enquanto outros se aborrecem com a precisão.

(....)

Logo, deve-se estar já instruído para saber como considerar cada tipo de argumento, pois é absurdo procurar ao mesmo tempo o conhecimento e o modo de obter conhecimento; e não é fácil alcançar nem um nem outro"

(In: Metafísica, II, 3, 995b32-995a14)

Do ilustrado resta mais uma vez evidenciada a oportunidade e a conveniência da administração da Justiça à nulidade administrativa complexa que envolve os procedimentos de biossegurança, urbi et orbi via actio popularis, pois o lexema "segurança pública" referido na petição sob protocolo 003560/30/03/2000 - em universos de discursos paraconsistentes nos quais ora gravitam os procedimentos administrativos de biossegurança - pode gerar seu oposto, ou seja, a não segurança, com potencial de danos para Todos(as), requerendo portanto uma concordância lexical preliminar (ao início do procedimento administrativo de biossegurança) e final (ao término do procedimento administrativo de biossegurança) e uma plano de contingenciamento específico para eventos não previstos naqueles universos discursivos, visando prestar de fato e de direito a segurança pública constitucionalmente garantida à Cidadania.

São Paulo, 25 de setembro de 2001.
180º da Independência e 113º da República Federativa do Brasil

 

Carlos Perin Filho
OAB-SP 109.649

E.T.:

Nome e assinaturas não conferem frente aos documentos apresentados com exordial em função da reconfiguração de direito em andamento, nos termos da Ação Popular nº 98.0050468-0, 11ª Vara Federal de São Paulo, ora em grau de Apelação, sob a relatoria do Desembargador Federal ANDRADE MARTINS, em autos sob nº 2000.03.99.030541-5 - www.trf3.gov.br -

 


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