A moral da história e Você Cidadania

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TZVETAN TODOROV, PETER BURKE, ROBERT KURZ, por traduções respectivas de CLARA ALLAIN, LUIZ ROBERTO M. GONÇALVES, e JOSÉ MARCOS MACEDO, oferecem artigos para reflexão sobre a moral da história, publicados no caderno mais! do jornal Folha de S. Paulo de 18.03.2001.

Do artigo de TZVETAN TODOROV o seguinte parágrafo é destacado, in verbis:

"(....)

A ação política não é necessariamente uma continuação da guerra com outros meios: ela também pode intervir no domínio simbólico para reparar e, assim, melhorar a vida da comunidade. A comunidade precisa de uma imagem comum de seu passado que se enquadre melhor com a Justiça, e as comissões de inquérito e os organismos políticos legítimos, tais como governos e Parlamentos, estão ali para contribuir para isso. Tais ações nem sempre são sensacionais. Elas requerem paciência e persistência e não nos permitem enxergar a nós mesmos como paradigmas de virtude. É possível que sejam as únicas maneiras confiáveis de criar um pouco mais de justiça neste mundo injusto."

Do artigo de PETER BURKE o seguinte parágrafo é destacado, in verbis:

"(....)

Por isso talvez fosse melhor falar em ‘reconstrução’ das tradições, em vez de invenção, já que o que ocorre não é tanto a criação a partir do nada quanto uma tentativa de bricolagem, de dar novos usos a materiais antigos ou fazer novas declarações com palavras antigas. Alguns cosmólogos falam na ‘criação contínua’ do Universo. O mundo cultural também pode ser considerado um processo de criação contínua, ou recriação, como uma espécie de canteiro de obras onde os andaimes nunca são desmontados porque a reconstrução cultural nunca termina."

Do artigo de ROBERT KURZ o seguinte parágrafo é destacado, in verbis:

"O mais dileto de todos os passatempos sociais é a busca de culpados. Quando algo sai errado em grande escala, quase nunca se permite que a própria coisa seja posta em xeque, o problema há de estar nas pessoas. Não se responsabilizam propósitos dúbios, relações sociais destrutivas ou estruturas contraditórias, e sim a falta de vontade, a escassa competência ou mesmo a má-fé das pessoas. Bem mais fácil é fazer cabeças rolarem do que subverter relações e modificar formas sociais. Essa tendência espontânea da consciência sem reflexão - para elaborar dificuldades mediante atribuições subjetivas de culpa - vai ao encontro da ideologia do liberalismo: afinal, ela subjetivou de cima a baixo a questão das causas dos problemas sociais.

(....)"

A complexidade do tema desafia os(as) Operadores(as) do Direito no planeta Terra, em busca de uma solução jurídica global que reconheça e supere circunstancialidades e restabeleça um equilíbrio entre partes do tecido social coletivo de Você Cidadania, na maior parte das vezes por gerações de Seres Humanos diferentes e/ou mesmo enquanto Civilização, "para se livrar de um sentimento difuso de culpa", como diz TZVETAN TODOROV.

Tal complexidade está presente também, em instrumentalidade substancial, nas Ações Populares que envolvem fatos históricos, como a do Nazismo, da Energia Nuclear, dos Contos de Réis, etc. Em poucas e outras palavras, a lógica tradicional não é aplicável aos casos referidos, mas sim a lógica paraconsistente, que permite uma pluralidade de critérios valorativos, inclusive contraditórios, se e enquanto as circunstancialidades dos fatos a conhecer e julgar assim ensejarem, notadamente quando tratam de responsabilidade individual e/ou coletiva.

Sinceramente,

 

Carlos Perin Filho


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