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PAULO DANIEL
FARAH, em matéria no jornal Folha de S. Paulo de 23.03.2003, p. A-26, lembra que a
cidade de Bagdá tem um papel histórico para o desenvolvimento filosófico da Humanidade,
in verbis:
"Bagdá foi
a principal cidade onde se produziu conhecimento a partir do início do século 9º. Ali
se traduziram para o árabe livros do grego, sânscrito, siríaco e persa.
Foram traduzidas
as principais obras de Aristóteles, com comentários neoplatônicos, a maior parte dos
estudos médicos de Hipócrates, Galeno e Paulo de Egina e as obras
geográfico-astronômicas de Ptolomeu. Algumas delas (como Almagesto, de Ptolomeu) só
sobreviveram em árabe.
(....)"
MIGUEL ATTIE
FILHO, em Falsafa - A Filosofia entre os Árabes, obra publicada pela editora Palas
Athena - www.palasathena.org - lembra daquela
herança, com a seguinte conclusão, in verbis:
"Quando
aquele senhor me perguntou qual a atualidade da falsafa fiquei desconcertado por um
instante. Eu falava com um homem do nosso tempo. - Não é atual, respondi. Por que (sic)?
Porque é fundamental. Que atualidade há em perdermos o nosso precioso tempo voltando mil
anos atrás para ler o que disseram homens barbudos e de turbante numa língua estranha?
Nada atual Perguntou-me, então, qual era a utilidade. Ora, fui embora. Não é útil. A
Filosofia é o não-útil. E a História da Filosofia é a história dos não úteis
inatuais. As perguntas fundamentais acompanharam os falásifa assim como
acompanharam também outros pensadores de sua época e os mais antigos.
Aos inatuais não
espanta poder circular pelas vielas da História em busca de momentos de lucidez. Pouco
importa a religião ou o país. Aos inatuais o paradigma é outro. Pois se a Filosofia é
a busca do saber, então, a pátria dos filósofos é a sabedoria. É para lá que vão. O
tempo dos sábios não se conta por datas, a língua dos sábios é a consciência, e sua
religião, o entendimento e o bem.
Recolher na
História momentos de consciência é um patrimônio universal Os inatuais estão sempre
presentes. Talvez valha para um mundo que se embate com os diferentes, que esbarra no
diverso e que se propõe global. A tolerância, na integração do mundo, é um axioma que
deriva do conhecimento e do entendimento do outro, do diferente e diverso que, no fundo,
toca algo que ultrapassa as diversidades. É de lá que ecoam as vozes da integração dos
povos, sem que se percam suas particularidades. É de lá que se clama que cada um
conheça a si mesmo para abraçar a humanidade inteira.
Não é demais
lembrar que a visão de mundo condiciona nossos atos. O mundo reflete seus cidadãos. A
filosofia auxilia nessa construção e nesse encontro. Coloca-nos frente a questões e a
soluções que ampliam horizontes e nos fazem acompanhados por pensadores e pensadoras de
todos os tempos. Ao entrarmos em contato com a cosmovisão dos falásifa um fato é
claro: a integração das coisas. Hoje em dia, isso ainda parece algo complicado. A
fragmentação e o estilhaçamento da cosmovisão dos nossos dias dificulta que possamos
ter uma visão mais integrada da realidade. Alguém pode dizer que, talvez, a realidade
não seja integrada. Essa é uma questão. Mas o refúgio da integração no interior de
nós mesmos é o princípio de uma realidade sadia.
Ibn Siná
escreveu uma obra chamada A cura, como vimos. Ibn Siná era médico. A cura
é uma obra de filosofia. O que seria, então, a cura para a filosofia? Essa obra é um
conjunto de todas as ciências conhecidas na época. Ibn Siná realizou uma grande
síntese. Será que ele colocou em sua obra tudo o que havia de conhecimento em sua
época? É claro que não. Certamente colocou tudo ou quase tudo que ele sabia num
conjunto ordenado segundo a sua própria organização. Essa lição me fica, sempre. A
cura é a integração dos conhecimentos a partir de uma cosmovisão própria visando o
bem. Isso é sadio e filosófico.
Quase tudo que
ele pensava em termos de ciência hoje é obsoleto. Terra no centro do Universo, teorias
do pneuma, teoria da luz. Nada mais vale. É inatual. É fundamental. Ele pensou sobre
isso. No limite de seu entendimento e dos recursos que possuía, elaborou sua síntese
própria. Integrado, unificado em sua pluralidade. Se a cosmovisão é o retrato da alma
do homem, cosmovisões integradas geram homens integrados. Por isso vale a pena ler os falásifa.
Eles respiram e transpiram integração do mundo, da alma e do homem. Para qualquer
construção de si mesmo... vale estar nas proximidades... vale escolher boas
companhias... Aquece-te, pois à luz dos sábios." (p. 363-364)
Para concluir
lamentando os conterráqueos óbitos em Bagdá e arredores nestas voltas
lunares-terrestres, vale assistir (novamente) ao filme O PACIENTE INGLÊS (THE ENGLISH
PATIENT), pois quando as pessoas humanas morrem levam com elas a capacidade de conhecer o
que é estranho, em outras humanas pessoas, ao longo da História, que passa a ser contada
por personagens em busca da perdida moral, como no filme FOREST GUMP, o contador de
histórias...
Filosoficamente,
Carlos Perin
Filho
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